O potencial uso da borra de café em cosméticos

  •  27/06/2020

       De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo e o segundo maior consumidor mundial da bebida.2 Segundo os indicadores nacionais do setor, publicados pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), no ano de 2018, o consumo interno foi de 21 milhões de sacas, cada saca contém 60 kg de café.3 A produção de resíduos, denominado “borra do café”, é proporcional a esse consumo. Para cada tonelada de café são produzidos 480 kg de borra, sem valor comercial e considerada poluente, devido à presença de compostos como taninos e cafeína. No entanto, esse resíduo é forte candidato à fonte de ingredientes ativos para formulações dermocosméticas, aquelas ligadas aos cuidados com a pele, por ser rica em antioxidantes e polifenóis.

Figura 1. Borra, grãos e pó de café

Fonte: ABIC. Disponível em: https://www.jornaldocafe.com.br/conheca-os-beneficios-do-cafe-para-a-pele-e-o-cabelo/

      Pesquisas sobre a utilização da borra de café constatam que esse resíduo é composto, essencialmente, por polissacarídeos, oligossacarídeos, lipídios, ácidos alifáticos, aminoácidos, proteínas, alcaloides (como a cafeína e a trigonelina), minerais, compostos fenólicos, lignina, melanoidinas e compostos voláteis.1 A borra do café é rica em óleos graxos, compostos em maior parte por ácidos palmítico e linoleico.4 A avaliação do teor de óleo na borra tem-se mostrado um dos caminhos mais promissores nesses estudos para a reciclagem e a valorização dos resíduos do café na indústria.

      Uma grande vantagem do uso do óleo extraído da borra de café nas formulações é que este, devido à presença de cafeína, tem dado indícios de melhora no desempenho de proteção solar devido a uma maior absorção de luz ultravioleta. Dependendo de múltiplas variáveis vinculadas à exposição solar e aos tipos de pele, esta radiação pode causar danos ao corpo, por exemplo, olhos e pele, induzindo à cegueira, a carcinomas e a melanoma.5  A cafeína, além das características ligadas à fotoproteção, ainda pode ser utilizada em formulações para tratamento de celulite, por ser um composto hidrofílico capaz de penetrar a epiderme, primeira barreira da pele, e alcançar a derme, onde ocorre o processo de lipólise.6

      Além disso, os compostos presentes no óleo extraído da borra agem como antioxidantes, proporcionando proteção contra radicais livres e reduzindo o envelhecimento da pele relacionado ao estresse oxidativo. No mais, os ácidos graxos presentes no óleo da borra possuem propriedades emolientes e hidratantes que contribuem para a saúde da pele.1 O ácido linoleico, em particular, quando utilizado em peles secas e desidratadas reduz o ressecamento e a descamação, conferindo maciez à pele e proporcionando a regeneração da camada hidrolipídica que a recobre. Já quando utilizado em peles acneicas e oleosas, leva a uma melhor atividade das glândulas sebáceas desobstruindo poros e diminuindo a incidência de comedões, também conhecidos como cravos, que consistem na obstrução de um folículo piloso por queratina e sebo.6

Figura 2. Linha de cosméticos à base de café da empresa AQIA Coffee

Fonte: foto de Teresa Raquel Bastos/ Editora Globo. Disponível em: http://www.cap.ind.br/noticia/cooperativa-aposta-em-cosmeticos-a-base-de-cafe

      Dessa forma, o uso da borra de café, rica em antioxidantes, ácidos graxos e outros compostos com potencial para tratamento de disfunções de pele, se mostra como promitente possibilidade para a indústria de cosméticos. Ademais, a utilização de resíduos agroindustriais traz vantagens em diversos sentidos, como a valorização do desenvolvimento sustentável, o uso de matéria prima de baixo custo e disponível em grandes quantidades e a substituição de compostos sintéticos. Esses fatores são determinantes para atrair cada vez mais consumidores que valorizam produtos sustentáveis e de origem vegetal.1

      Caso queira saber mais detalhes da pesquisa, aproveite que o artigo original está disponível gratuitamente e faça uma boa leitura. Como sempre, dúvidas, críticas e sugestões são bem - vindas e podem ser enviadas tanto pelas redes sociais quanto pelo e-mail petunbquimica@gmail.com.

Referências

1 Hermann, K. A. C.; Magnago, R. F.; Bianchet, R. T.; Moecke, E. H. S.; Cubas, A. L. V. Avaliação do uso da borra de café para utilização em produtos cosméticos. Revista Virtual de Química, Volume 11, Número 6, p. 1810-1822, 2019.

2 Sítio do International Coffee Organization. Disponível em: <http://www.ico.org/>. Acesso em: 15/06/2020.

3 Sítio da Associação Brasileira da Indústria de Café. Disponível em: < https://www.abic.com.br/estatisticas/indicadores-da-industria/>. Acesso em:15/06/2020.

4 Faria, A. P. C.; Carotta, M. S. L.; Fraguas, N. A. M. K.; Neto, M.R.  F.; Mendes, M. F.; Pereira, C. S. S. Desenvolvimento de sabonete glicerinado com adição do óleo extraído da borra do café. p. 1541-1544. In:. São Paulo: Blucher, 2018.

5  <https://www.fda.gov/radiation-emitting-products/tanning/ultraviolet-uv-radiation#2>. Acesso em: 22/06/2020.

6 Rodrigues, F.; et al. Handbook of coffee processing by -products: sustainable applications; Galanakis, C. M., ed.; Academic Press: Cambridge, 2017, cap. 7. apud Hermann, K. A. C.; et al. Avaliação do uso da borra de café para utilização em produtos cosméticos. Revista Virtual de Química, Volume 11, Número 6, p. 1810-1822, 2019.

 

O resumo sobre o artigo em referência e a inclusão de algumas observações são de Érica de Mendonça Pereira

ericamendoncap@gmail.com
Revisado pelos discentes Henrique do Nascimento Coutinho e Matheus Pereira Sales

Editado pelo discente Luís Henrique M. Camargos